Vontade de ficar curado leva paciente de Macapá a ser submetido a transplante musculoesquelético em Belém

O amapaense foi submetido a um transplante inédito na região amazônica — Foto: Divulgação/Hospital Maradei

O mecânico Alfredo Oliveira, de 55 anos, que mora em Macapá, sofreu um acidente grave em fevereiro do ano passado, quando teve a parte inferior do corpo prensada entre dois carros

O Pará realizou o segundo transplante musculoesquelético do Estado. A cirurgia, de alta complexidade, ocorreu no último dia 28 de fevereiro, no Hospital Maradei, via SUS, e foi considerada um sucesso. O médico responsável pelo transplante foi o ortopedista João Alberto Maradei, especialista em cirurgia de joelho. Ele explica que, no acidente, Alfredo sofreu múltiplas fraturas na perna, joelho e coxa esquerdos, enquanto o joelho direito sofreu rotura de todos os ligamentos.
As fraturas do lado esquerdo foram tratadas em Macapá, na época do acidente. Já a cirurgia de alta complexidade, que precisava ser feita no joelho direito, motivou a transferência do paciente para Belém, onde foi realizada a reconstrução multiligamentar por meio de transplante musculoesquelético.

O transplante foi necessário porque o paciente rompeu todos os ligamentos das articulações. Nesse tipo de cirurgia, geralmente retiramos enxertos de ambos os joelhos do próprio paciente para a reconstrução, mas, nesse caso, não foi possível porque os dois joelhos estavam bastante comprometidos. Então, a solução foi solicitar o enxerto de um banco de tecidos e realizar o transplante.

— João Alberto Maradei/Ortopedista
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O material para o transplante foi disponibilizado pelo Banco de Tecidos Musculoesqueléticos do INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), localizado no Rio de Janeiro. “Dessa forma, pudemos realizar a reconstrução dos ligamentos do joelho do paciente. A próxima etapa agora é a fisioterapia. Será um longo processo até que ele se recupere totalmente.” ressalta o médico.

Com o transplante, ele espera se recuperar e voltar às atividades normais de trabalho. “Graças a Deus foi feita a reconstrução do meu joelho, fui bem atendido, farei fisioterapia e, daqui pra frente, é só vitória!”, diz, com entusiasmo.

Em 16 de janeiro deste ano, de forma inédita, foi realizado o primeiro transplante musculoesquelético do Estado, também via SUS, no Maradei. O paciente foi o professor Juan Paixão da Silva, de 40 anos, de São Sebastião da Boa Vista (PA). Ele sofreu um acidente de moto em janeiro de 2023, que provocou o rompimento de três ligamentos do joelho direito. Na ocasião, o enxerto para o transplante foi disponibilizado pelo Banco de Tecidos Musculoesqueléticos do IOT – Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP.

Sobre o transplante músculo esquelético

O transplante musculoesquelético beneficia pacientes com perdas ósseas decorrentes de tumores, traumatismo, portadores de deformidades congênitas, lesões ligamentares das articulações, que necessitam de revisões de artroplastias (joelho, quadril, cotovelo, ombro), dentre outros.
O material para o transplante inclui ossos, tendões, cartilagens, meniscos e demais tecidos responsáveis pela sustentação e movimentação do corpo humano. É proveniente de doadores e é captado, processado, armazenado e distribuído por bancos de tecidos. No Brasil, há apenas cinco bancos de tecidos para atender hospitais em todo o país.
No Pará, o Hospital Maradei é o único habilitado a realizar esse tipo de transplante, após passar por rigorosas etapas de certificação, envolvendo avaliação da Central Estadual de Transplantes – CET-PA e do Ministério da Saúde.
O médico ortopedista, João Alberto Maradei, explica que esse tipo de transplante, apesar da complexidade, permite uma reabilitação mais abreviada, além do paciente não precisar tomar medicação para evitar a rejeição do enxerto.
Outro ponto positivo é que, uma vez identificada a necessidade do enxerto de banco de tecidos, a compatibilidade entre doador e receptor é bem mais simples do que a do transplante de outros órgãos, o que ajuda na redução do tempo de espera pela cirurgia.


Quem pode doar tecido musculoesquelético
Estão habilitadas a doar pessoas entre 10 e 70 anos, que não tenham tido doenças infecciosas (transmitidas pelo sangue), câncer ósseo e osteoporose avançada. A doação pode vir de pessoas vivas ou de cadáveres.

Número de pessoas beneficiadas com a doação
Cada doador pode beneficiar cerca de 30 pacientes, ou seja, serão 30 cirurgias realizadas, um número considerado alto pelos especialistas.

Autorização para doação
O doador vivo é o paciente que necessita colocar prótese no quadril e que, para isso, precisará retirar, durante o procedimento cirúrgico, a cabeça femoral. Essa cabeça femoral poderá ser doada ao banco de tecido, mediante autorização do próprio paciente.
No caso do doador cadáver, com óbito motivado por morte encefálica ou parada cardíaca durante a internação hospitalar, será necessária a autorização da família para a captação dos tecidos. Por isso, é importante que a pessoa, que deseje ser doadora após a morte, informe isso aos familiares.

Sobre o Hospital Maradei
O Hospital Maradei foi fundado em 1966 e, deste então, é conveniado ao Sistema Público de Saúde, além de ter caráter filantrópico. A instituição também mantém parceria com o Hospital-Escola da UFPA, o que permite troca de experiências na área de saúde, colaboração na formação de novos profissionais e realização de relevantes estudos científicos e pesquisas que favoreçam a reabilitação da qualidade de vida da população paraense.

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